Se não dor,
Que havia de ser?
Quando olho nos olhos
Daqueles que não têm pão
Quando passo pelas calçadas
Bem perto dos donos da rua
Quando não vejo a chuva
Qundo não tenho chão.
O que carrego do mundo
É pesado demais
Não tem voz, mas grita
O grito que todos ouvem
- De ouvidos tapados por mãos amigas.
Quando passo pela lama
A cena congelada que quero esquecer
Os meninos sem blusa
Sem terno
Sem pão.
O que carrego do mundo
O mundo de todos
- E de poucos.
Os cárceres lotados
A cena lotada de nó
De poeira
De pó
O que carrego do mundo
A sopa gelada
A colher vazia
O grito de todos
- De muitos.
O que carrego do mundo
Se não dor,
Que havia de ser?
CLARISSA DAMASCENO MELO